Quando os Mavericks trocaram Luka Doncic para os Lakers, lembro de ter pensado que talvez fosse a negociação mais chocante da minha vida como fã da NBA. E, quem sabe, de toda a história da liga.
Os que caem nas armadilhas do exagero da mídia esportiva — os “prisioneiros do momento” — podiam, ali mesmo, decretar que era a pior troca de todos os tempos. Eu, pessoalmente, parei um pouco antes disso. Quis esperar pra ver as coisas se desenrolarem. Ainda que fosse, de fato, uma decisão absurdamente burra.
Aparentemente, nove meses foram suficientes pros Mavericks decidirem demitir o já contestado GM Nico Harrison, o executivo responsável por orquestrar essa troca inacreditável. No fim, nem mesmo ter dado a sorte de conseguir a escolha nº 1 do Draft e selecionar Cooper Flagg foi o bastante pra segurar Harrison no cargo, enquanto ecoavam os gritos de “Fora, Nico!” Vindos de uma torcida traída.
E com isso, chegou a hora de encarar a pergunta: onde a troca de Luka Doncic pros Lakers se encaixa entre as piores da história da NBA?
(Clique aqui pra pular direto pra lista. Mas, antes, alguns pontos importantes:)
- Com uma exceção importante, trocas em que o principal ativo são escolhas de Draft não contam. Hornets trocando Kobe Bryant, Sonics mandando Scottie Pippen embora, Bucks se desfazendo de Dirk Nowitzki, Clippers abrindo mão da escolha que virou Kyrie Irving, Warriors trocando Kevin McHale e Robert Parish... Em retrospecto, tudo isso foi terrível. Mas, pra cada Kobe escolhido em 13º, há um Chris Duarte, Jerome Robinson, Sebastian Telfair ou Marcus Haislip.
- Não há fórmula. Eu poderia ter criado um sistema pra medir o valor do que entrou e do que saiu e rodado isso pra todas as trocas da história da liga? Poderia. Fiz isso? Não. (Mas, se você fizer, me manda que eu compartilho por aí.)
- A percepção ao longo do tempo importa. Pegue, por exemplo, os Grizzlies trocando Pau Gasol pros Lakers por Kwame Brown, Javaris Crittenton e alguns vales-presente da Blockbuster. Foi um roubo na época, e o então GM Chris Wallace garantiu seu lugar no “Clube dos Piores Dirigentes da História”. Mas os Grizzlies acabaram herdando o irmão mais novo de Pau, Marc Gasol, que se tornou All-Star, Defensor do Ano e um dos maiores ídolos da franquia, com a camisa aposentada no teto do ginásio. Isso muda as coisas.
9. Thunder troca James Harden para os Rockets

- Rockets recebem: James Harden, Cole Aldrich, Lazar Hayward, Daequan Cook
- Thunder recebem: Kevin Martin, Jeremy Lamb, duas escolhas de 1ª rodada, uma de 2ª rodada
Existe uma realidade alternativa em que o Thunder decide pagar tanto James Harden quanto Serge Ibaka, mantendo unido um núcleo que também contava com dois futuros MVPs: Kevin Durant e Russell Westbrook.
Mas, logo após perder as Finais da NBA de 2012, o OKC optou por trocar Harden — então com 22 anos e recém-eleito Melhor Sexto Homem do Ano — abrindo mão do que poderia ter sido o trio mais temido da NBA por muitos anos. E o mais curioso: eles ainda tinham um ano inteiro antes de precisarem renovar o contrato de Harden.
É verdade, uma das escolhas virou o querido Steven Adams. Mas Harden se transformou em futuro Hall da Fama e fez dos Rockets um contender de 50 vitórias por temporada praticamente sozinho. Já o núcleo Durant–Westbrook nunca mais voltou às Finais da NBA (embora, justiça seja feita, Harden também não chegou lá novamente).
Essa não é a única troca do Thunder nessa lista — mas, felizmente pros torcedores de OKC, na outra eles estão do lado certo da história.
8. Rockets trocam Moses Malone para os 76ers

- 76ers recebem: Moses Malone
- Rockets recebem: Caldwell Jones, uma escolha de 1ª rodada
Se essa lista fosse um pouco mais longa, Malone apareceria nela duas vezes, já que os 76ers depois o deram de graça pros Bullets.
Mas, como estamos escolhendo só uma, tem que ser esta: Malone foi trocado logo depois de vencer seu segundo prêmio de MVP, ainda no auge.
Os torcedores dos Rockets dirão que a troca acabou rendendo as escolhas que levaram Ralph Sampson e Hakeem Olajuwon. Verdade. Mas ninguém podia prever isso na época.
Logo em sua primeira temporada na Filadélfia, Malone venceu mais um MVP e liderou os 76ers ao título da NBA. Enquanto isso, Caldwell Jones jogou duas temporadas em Houston, com médias de 9,7 pontos, e a escolha virou Rodney McCray — um bom defensor titular por alguns anos, mas nunca um All-Star.
7. Celtics trocam Kevin Garnett e Paul Pierce para os Nets

- Nets recebem: Kevin Garnett, Paul Pierce, Jason Terry, DJ White
- Celtics recebem: Gerald Wallace, Kris Humphries, MarShon Brooks, Kris Joseph, Keith Bogans, três escolhas de 1ª rodada e uma troca de escolhas em 2017
Lembra da regra sobre não incluir trocas baseadas em picks? Pois é, aqui vai a exceção.
Empenhar o futuro em quatro escolhas — três delas bem distantes — pra contratar Garnett (37 anos) e Pierce (36) foi pura insanidade. Ainda mais considerando que essas escolhas virariam Jayson Tatum e Jaylen Brown.
Talvez, se o Brooklyn tivesse vencido, o preço alto se justificasse. Mas Mikhail Prokhorov se empolgou demais achando que dois veteranos, ao lado de Deron Williams, Kirilenko e Brook Lopez, poderiam bater de frente com LeBron, Wade e Bosh em Miami.
Mesmo uma eliminação honrosa nas finais de conferência talvez justificasse. Mas terminar 44-38 e cair na segunda rodada pros Raptors? É esse tipo de resultado que garante presença em listas como esta.
6. Thunder troca Paul George para os Clippers

- Clippers recebem: Paul George
- Thunder recebem: Shai Gilgeous-Alexander, Danilo Gallinari, quatro escolhas de 1ª rodada e duas trocas de pick
Todo mundo teria feito essa troca no lugar dos Clippers.
Kawhi Leonard só queria ir pra lá se o time também conseguisse George. Sam Presti sabia disso — e arrancou um tesouro inacreditável.
Em defesa dos Clippers, ninguém imaginava que SGA viraria o melhor armador da NBA, futuro cestinha e MVP das Finais. Um All-Star? Talvez. Mas isso tudo, não.
Mesmo com esse contexto (e por isso a troca não está mais acima), o pacote de quatro escolhas e duas swaps — uma delas ainda nem convertida, em 2026 — é pesado demais. Uma dessas virou Jalen Williams, pra piorar.
E o saldo da dupla Kawhi-PG? Apenas três séries de playoffs vencidas, com o auge sendo uma final de conferência em 2024 — sem Kawhi, lesionado.
Justificável ou não, o resultado é claro: foi uma má troca pros Clippers.
5. 76ers trocam Charles Barkley para os Suns

- Suns recebem: Charles Barkley
- 76ers recebem: Jeff Hornacek, Andrew Lang, Tim Perry
Chamar esse pacote de “mistura indigesta” seria injusto com Jeff Hornacek — então vamos dizer apenas que é o equivalente a trocar um filé mignon por um pratinho de saladas.
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Após oito temporadas turbulentas, o Philadelphia decidiu que já tinha tido o bastante de Sir Charles e mandou o astro, então com 28 anos, pra Phoenix — onde ele viveu o auge da carreira.
Primeiro veio a Olimpíada de 1992, em que Barkley, não Jordan, foi o artilheiro do Dream Team. Depois, a temporada 1992-93, em que Barkley, não Jordan, foi o MVP da liga. E, claro, terminou perdendo pra Jordan nas Finais, mas de forma heroica.
Enquanto isso, o Philadelphia venceu apenas 26 jogos, demitiu o técnico no meio da temporada e trocou Hornacek pro Jazz logo depois. Não é exatamente o tipo de retorno que se espera ao abrir mão de um dos cinco melhores jogadores do planeta no auge da carreira.
4. Nets trocam Julius Erving para os 76ers

- 76ers recebem: Julius Erving
- Nets recebem: US$ 3 milhões
Dá pra escutar qualquer argumento dizendo que essa foi a pior troca da história da NBA.
Dois meses depois de oficialmente entrarem na liga com a fusão ABA–NBA, os Nets estavam desesperados por dinheiro pra sobreviver — e, basicamente, venderam Erving pros 76ers por US$ 3 milhões.
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Você veio até aqui por um ranking, não por uma aula de economia esportiva dos anos 1970. Mas, se quiser mergulhar nesse buraco de coelho, a história é longa. O essencial é: os torcedores dos Nets se revoltaram, Dr. J ganhou um título e fez 11 All-Star Games na Filadélfia — e, pra piorar, os Knicks poderiam ter ficado com Erving em vez da taxa territorial que os Nets lhes deviam. Porque, afinal, nenhuma lista fica completa sem dar uma cutucada nos Knicks.
3. Mavericks trocam Luka Doncic para os Lakers

- Lakers recebem: Luka Doncic, Maxi Kleber, Markieff Morris
- Mavericks recebem: Anthony Davis, Max Christie, Jalen Hood-Schifino, uma escolha de 1ª rodada, uma de 2ª rodada
OK, aqui vai a real: o tempo será o único juiz. Essa troca pode subir ou cair nesse ranking conforme os próximos anos se desenrolem.
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Mas, com pouco mais de um mês de sua primeira temporada completa em Los Angeles, Doncic está com os melhores números da carreira, em forma física absurda, em uma “tour da vingança” e até na capa da Men’s Health — algo que, claro, “ninguém poderia prever” depois que Nico Harrison o culpou publicamente pela condição física antes da troca. (Nota do editor: todo mundo, até meu filho de três anos, poderia prever isso.)
Enquanto isso, os Mavericks lidam com lesões de Davis (de novo) e Kyrie Irving, e, mesmo com a promessa do novato geracional Cooper Flagg, que literalmente caiu no colo da franquia, o time parece longe de brigar por título. E tudo isso logo depois de chegarem às Finais da NBA, quando Harrison inexplicavelmente alegou que trocar um astro de 25 anos por um veterano de 32 “se alinhava melhor ao momento de vencer agora”.
Sem falar em não exigir Austin Reaves na troca. Ou sequer abrir leilão pra outros interessados. Mesmo que alguém ache defensável negociar Doncic, o retorno recebido é simplesmente ridículo.
Não há muito mais a dizer além de: aguarde pra ver no que isso vai dar.
Aos torcedores dos Mavericks: sinto muito. Aproveitem Cooper Flagg.
2. Warriors trocam Wilt Chamberlain para os 76ers

- 76ers recebem: Wilt Chamberlain
- Warriors recebem: Connie Dierking, Paul Neumann, Lee Shaffer
Assim como Moses Malone, Wilt Chamberlain poderia facilmente aparecer aqui duas vezes. Pelo menos, quando os 76ers o mandaram pros Lakers, receberam um All-Star (Archie Clark).
Dierking teve média de 8 pontos em 30 jogos pelos Warriors. Neumann disputou 180 jogos em duas temporadas e meia, com 13,5 pontos de média. Shaffer, por sua vez, nunca jogou uma partida sequer.
Enquanto isso, Chamberlain venceu três MVPs seguidos e levou os 76ers ao título em 1967.
Seria como se os Mavericks tivessem trocado Luka pros Lakers, mas recebido Bronny James, Christian Koloko e Jaxson Hayes em vez de Anthony Davis.
Se Wilt não tivesse pedido pra sair e continuado na Filadélfia, essa troca estaria em 1º lugar. E, pra ser sincero, talvez ainda devesse estar, dado o quão dominante ele foi nos 76ers comparado ao retorno ridículo que rendeu.
1. Bucks trocam Kareem Abdul-Jabbar para os Lakers

- Lakers recebem: Kareem Abdul-Jabbar, Walt Wesley
- Bucks recebem: Elmore Smith, Brian Winters, Dave Meyers, Junior Bridgeman
Pra quem acha que o “poder dos jogadores” começou com The Decision do LeBron, vale ler sobre como Kareem forçou sua saída de Milwaukee — e justamente pros Lakers. Só porque tudo aconteceu de forma educada e discreta, sem programa de TV, não quer dizer que ele não tenha exercido toda a influência possível.
No fim das contas, os Bucks pouco podiam fazer além de respeitar o desejo do craque, depois de seis temporadas históricas com um título e três MVPs.
E, pra ser justo, o retorno não foi de todo ruim: Elmore Smith já tinha liderado a liga em tocos e Brian Winters virou All-Star em Milwaukee.
Mas essa troca acendeu uma era dourada de 14 anos nos Lakers, culminando na parceria lendária entre Kareem e Magic Johnson, que rendeu cinco campeonatos.
Não é a pior troca da história por causa de algum erro dos Bucks.
É a pior porque mostra quanto custou o que eles perderam.