Michael Jordan x LeBron James: especialistas debatem quem foi maior fora das quadras

Stephen Noh

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Discutir quem é o maior jogador da história da NBA — especialmente no duelo Michael Jordan x LeBron James — é uma das maiores paixões dos fãs de esporte. O Sporting News analisa os argumentos de cada lado, não só dentro das quadras, mas também no legado cultural e fora do basquete.

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Michael Jordan nunca recusou um desafio. O astro, que certa vez acertou seis arremessos seguidos no acampamento de verão de Chris Paul — só pra impedir que as crianças ganhassem tênis de graça — ficou famoso pela obsessão em vencer qualquer coisa.

LeBron James também coleciona conquistas. Com quatro títulos da NBA e o recorde de maior pontuador da história da liga, o camisa 23 sempre será comparado a Jordan em qualquer conversa sobre quem foi o melhor.

A disputa sobre quem dominou mais em quadra pode durar pra sempre. Mas e fora das quadras — quem levou a melhor?

Bilionários e ícones da cultura americana

Ambos os atletas se tornaram gigantes nos negócios. Os dois aparecem na lista da Forbes de bilionários — embora Jordan lidere com folga, acumulando cerca de US$ 3,5 bilhões contra US$ 1,3 bilhão de LeBron. E boa parte dessa fortuna foi construída longe das quadras.

Eles se tornaram influenciadores antes mesmo da palavra existir. Estão tão entranhados na cultura dos Estados Unidos quanto qualquer outra figura do esporte.

Mas afinal: qual dos dois ícones da NBA teve o maior impacto cultural? O Sporting News conversou com especialistas para tentar responder essa pergunta.

O impacto cultural de Michael Jordan e LeBron James

Quem foi mais influente na cultura dos tênis?

Jordan e LeBron são as duas maiores faces da Nike. Segundo a ESPN, Jordan já lançou 39 modelos assinados de tênis, enquanto LeBron tem 41.

Mas Jordan foi o verdadeiro inovador. Seus Air Jordans mudaram completamente a indústria.

Sonny Vaccaro, ex-executivo da Nike e autor do livro "Legends and Soles: The Memoir of an American Original", presenciou esse impacto de perto. Foi ele quem convenceu o cofundador da Nike, Phil Knight, a apostar todo o orçamento de marketing da empresa em Michael Jordan, lá em 1984. O contrato? Um acordo inédito de US$ 2,5 milhões por cinco anos — além de uma porcentagem sobre cada par vendido.

O retorno foi imediato: Jordan gerou US$ 131 milhões em vendas no seu primeiro ano com a Nike.

“Esse foi o ponto de virada da Nike”, disse Vaccaro ao Sporting News. “Ninguém esperava aquilo.”

A partir de então, outras empresas começaram a enxergar o potencial dos atletas profissionais como figuras centrais de suas marcas.

“Você não pode comparar mais nada ao que o Michael Jordan fez”, afirmou Vaccaro. “Se ele não tivesse fechado com a Nike — e quase não fechou — o mundo teria sido diferente".

"Isso deu a ele a chance de ser a maior influência nos EUA em termos de tênis. Ninguém teria imaginado o que conseguimos fazer. Então não há comparação entre os dois.”

Já Thilo Kunkel, professor de marketing esportivo da Temple University e estudioso da influência de Jordan na indústria, vê a história com um pouco mais de nuance.

“Michael Jordan foi, obviamente, um pioneiro daquela geração anterior”, disse ele ao Sporting News. “Mas se não fosse ele, acho que teria sido outra pessoa a abrir esse caminho.”

Jordan pode ter iniciado o movimento de tênis com atletas. Mas LeBron levou isso a um novo patamar. Seu primeiro contrato com a Nike foi de US$ 90 milhões — ainda como adolescente. Em 2015, ele assinou um acordo vitalício com a marca, avaliado em cerca de US$ 1 bilhão.

LeBron não é apenas garoto-propaganda. Ele é sócio de times de beisebol, futebol e hóquei. E vendeu parte da sua produtora, a SpringHill Company, em uma avaliação de US$ 725 milhões.

“LeBron virou a principal face desse novo movimento de atleta-investidor que vemos cada vez mais”, explicou Kunkel. “Ele não se contenta com a porcentagem de merchandising. Ele investe pesado em negócios ligados à sua marca pessoal. Criou sua própria agência. Está construindo um império em torno do seu nome, imagem e reputação.”

Mas, para Vaccaro, Jordan ainda vence esse duelo.

“O símbolo da Nike, o 'swoosh', nunca teria o peso que tem com outro atleta. O swoosh virou sinônimo dos tênis de Michael Jordan. Está em tudo. Se Jordan não assina, todas essas coisas incríveis que vieram depois talvez nunca tivessem acontecido.”

“Cultural e historicamente, nunca haverá um momento como aquele — nem no marketing, nem na indústria dos tênis.”

Air Jordans

Quem teve a melhor personalidade fora das quadras?

Vaccaro foi enfático ao defender que Jordan teve maior impacto no mundo do marketing. Mas, quando o assunto é atuação fora das quadras, ele reconhece que LeBron leva vantagem.

“[LeBron] é um embaixador mais completo por tudo o que fez publicamente”, afirmou Vaccaro. “O que o Michael — ou qualquer outro da época — nunca fez de verdade foi se envolver com a comunidade, com o mundo ao seu redor.”

Thilo Kunkel concorda, destacando que LeBron nunca se esquivou de posicionamentos políticos.

“LeBron se posiciona com força em pautas sociais, coisa que Jordan não fez tanto”, analisou. “Tem aquela frase famosa do Jordan, que dizia que ‘republicanos também compram tênis’. LeBron adotou uma postura muito mais clara politicamente e sempre falou abertamente sobre questões sociais que presencia.”

A frase mencionada por Kunkel surgiu durante uma acirrada disputa eleitoral em 1990 entre o senador republicano Jesse Helms, conservador ferrenho, e o democrata Harvey Gantt, que tentava se tornar o primeiro negro eleito ao Senado pela Carolina do Norte desde a Reconstrução. Jordan se recusou a apoiar Gantt publicamente.

LeBron, por outro lado, nunca teve medo de usar sua voz — mesmo que isso custasse fãs ou contratos de patrocínio. Ele criticou Donald Trump abertamente, declarou apoio a políticos progressistas e respondeu com firmeza à apresentadora conservadora Laura Ingraham, que mandou ele “calar a boca e jogar basquete”.

“Eu sou importante demais pra sociedade, pras crianças, pra tantos jovens que sentem que não têm uma saída”, respondeu LeBron.

JORDAN x LEBRON: As estatísticas mais importantes que você precisar considerar

A frase “republicanos também compram tênis” sempre será associada a Michael Jordan. Ele comentou o episódio no documentário The Last Dance, explicando que foi uma piada — mas reconheceu que poderia ter se envolvido mais politicamente.

“Admiro o Muhammad Ali por ter defendido aquilo em que acreditava. Mas eu nunca me vi como ativista. Eu me via como jogador de basquete”, disse Jordan no documentário. “Eu não era político enquanto jogava. Estava focado no meu ofício. Isso foi egoísmo? Provavelmente. Mas era ali que estava minha energia.”

Jordan afirma ter feito mais pelo engajamento político após se aposentar. Ele e a marca Jordan destinaram US$ 100 milhões para iniciativas voltadas à igualdade racial, justiça social e educação, após o assassinato de George Floyd.

Em 2017, ele se manifestou contra uma lei anti-trans na Carolina do Norte, que fez a NBA transferir o All-Star Game daquele ano para outro estado. Ele também fez grandes doações para o Instituto de Relações Comunitárias da Associação Internacional de Chefes de Polícia e para o Fundo de Defesa Legal da NAACP.

Ainda assim, mesmo com essas contribuições relevantes, LeBron se posicionou com muito mais frequência e firmeza ao longo da carreira — e por isso leva a melhor neste quesito.

LeBron James

Quem é o maior ícone hoje?

LeBron certamente está mais em evidência do que Jordan nos dias atuais. Ainda atua em alto nível, é presença constante nos times ideais da NBA e defende uma das franquias mais tradicionais da liga. Jordan, por outro lado, está aposentado há quase 25 anos e optou por ficar longe dos holofotes.

E essa escolha foi totalmente intencional. LeBron tem 159 milhões de seguidores no Instagram e 53 milhões no X (antigo Twitter). Jordan? Zero. Ele nunca demonstrou interesse em estar nas redes sociais. Em uma entrevista à revista Cigar Aficionado, em 2020, ele explicou o motivo:

“As redes sociais, o Twitter, essas coisas todas invadiram a personalidade e a vida pessoal das pessoas. Muita gente usa isso pra ganhar dinheiro e tal. Mas, pra alguém como eu, não sei se conseguiria sobreviver nessa era do Twitter, em que você não tem a privacidade que gostaria.”

Jordan sempre quis manter sua vida pessoal fora do radar. Sonny Vaccaro, que esteve ao lado dele nos anos 90, testemunhou isso de perto:

“Viajei com ele pra Europa. Fizemos coisas pessoais, festas de aniversário, tudo isso. Era sempre privado. Já o LeBron, cada vez que faz ou diz algo, é num universo muito mais amplo.”

Jordan vive a aposentadoria exatamente como planejou. Em 1992, já havia dito em entrevista à Playboy que queria seguir os passos de Julius Erving:

“O Julius Erving está fazendo exatamente o que eu quero fazer. Você vê ou ouve falar dele? Mas sei que ele tá fazendo o que gosta, meio afastado da vida pública. É exatamente o que eu quero. Quando o tempo dele acabou e ele se afastou do jogo, saiu com orgulho, respeitado. É o que eu quero.”

A atitude de LeBron não poderia ser mais diferente. Ele posta com frequência no X e no Instagram, compartilha momentos da família, hobbies e bastidores da própria vida — e permite que os fãs acompanhem tudo.

Essa abertura, no entanto, pode diluir o impacto da marca LeBron, segundo defensores de Jordan — como seu filho Marcus:

“Uma das coisas que aumentam o legado do meu pai é esse mistério em torno dele. Ele não é facilmente acessível”, disse Marcus no programa The Breakfast Club, em 2020. Vaccaro concorda:

“O Michael valoriza a privacidade. O LeBron é aberto ao público. E, quando você é aberto ao público, acaba se tornando comum demais. Quando se mede isso, é mais emocionante para o público.”

“As personalidades deles são muito diferentes”, continuou Vaccaro. “O Michael é muito mais reservado, até hoje. O Michael é uma entidade em si mesmo. O LeBron é uma entidade para o mundo.”

A visão de Jordan sobre as redes sociais ajuda a explicar a forma como ele encara esse debate. Ele destruiu todos os adversários que enfrentou nas quadras, mas sempre evitou comparações com ídolos de outras gerações. Provavelmente, não gostaria nem de participar dessa discussão. Mas, mesmo na única disputa que o maior competidor de todos os tempos não faz questão de ganhar… ele ainda vence.

Jordan pode não ter sido tão ativista quanto LeBron, nem ter usado as redes sociais para expandir sua marca. Mas não precisou. Continua sendo um dos atletas mais reconhecidos do planeta. Qualquer fala sua vira manchete no mundo inteiro — e ele mantém essa relevância há mais tempo do que LeBron está vivo.

“O Michael se manteve presente na consciência do público americano por 50 anos, mesmo entre pessoas que nunca o viram jogar basquete”, disse Vaccaro. “Como é que você explica isso?”

Stephen Noh

Stephen Noh started writing about the NBA as one of the first members of The Athletic in 2016. He covered the Chicago Bulls, both through big outlets and independent newsletters, for six years before joining The Sporting News in 2022. Stephen is also an avid poker player and wrote for PokerNews while covering the World Series of Poker from 2006-2008.