O vínculo entre Flamengo e BRB, que garante mais de R$ 40 milhões por ano ao clube, entrou em alerta após a Operação Compliance Zero, que prendeu o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, e afastou a cúpula do Banco de Brasília. Como o BRB é patrocinador direto do Rubro-Negro e injetou bilhões no Master nos últimos anos, a investigação acendeu uma preocupação imediata na Gávea sobre eventuais reflexos no contrato.
Como o BRB entrou na investigação
A Polícia Federal mirou nesta terça-feira (18/11) o Banco Master e o BRB, após o Ministério Público identificar indícios de gestão fraudulenta na relação entre as duas instituições. Segundo apurações, o BRB destinou R$ 16,7 bilhões ao Master entre 2024 e 2025, movimento que levantou suspeitas e resultou no afastamento por 60 dias de Paulo Henrique Costa, então presidente do BRB. Já Daniel Vorcaro, dono do Master, foi preso na última segunda-feira (17/11).
A Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro em Guarulhos (SP), quando ele tentava embarcar em um avião particular com destino final a Dubai. Ele é dono do Banco Master e possui 20,2% da SAF do Atlético-MG, ficando atrás apenas da família Menin e da Associação – o que o coloca entre os principais investidores privados do clube mineiro.
A defesa nega fuga e afirma que o empresário viajaria para se reunir com compradores do Master, que acabara de anunciar sua venda a um consórcio liderado pela Fictor Holding Financeira. O negócio, porém, dependia de aprovação do Banco Central e previa aporte imediato de R$ 3 bilhões para salvar o banco, que atravessava forte crise de liquidez.
Na manhã desta terça, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master e bloqueou bens dos controladores. Segundo o MP, a instituição vendia CDBs falsos com promessa de rendimentos até 40% acima do mercado, o que não se concretizava.
Há ainda uma investigação paralela: o MP de São Paulo apura a origem dos recursos usados por Vorcaro para comprar parte da SAF do Atlético-MG. Dois fundos ligados ao aporte de cerca de R$ 300 milhões entre 2023 e 2024 são suspeitos de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio vinculado ao PCC. O Atlético não é investigado e afirma desconhecer irregularidades.
Já o BRB é uma empresa de economia mista, cujo controle (71,92%) pertence ao Governo do Distrito Federal, que afirma que todas as operações bancárias seguem normais.
A expansão do BRB no esporte
Nos últimos seis anos, o BRB se tornou um dos maiores financiadores do esporte brasileiro – e até internacional. O banco ampliou patrocínios que começaram localmente no Distrito Federal e hoje vão do futebol ao automobilismo.
Entre os investimentos:
- Patrocínio a clubes do Campeonato Brasiliense de Futebol e ao prêmio de R$ 1 milhão ao campeão.
- Apoio ao Brasília Vôlei e ao Brasília Basquete.
- Entrada no basquete do Flamengo em 2019.
- Patrocínio à seleção brasileira de basquete no Mundial de 2019.
- Naming rights do Mané Garrincha e do Ginásio Nilson Nelson.
- Gestão do Autódromo Internacional de Brasília desde 2023.
- Patrocínio à Stock Car e a pilotos.
- Aporte à equipe Alpine, da Fórmula 1 – R$ 1,657 milhão em 2024.
O balanço financeiro de 2024 mostra que o BRB investiu R$ 28,2 milhões em patrocínios no ano, sendo R$ 16,6 milhões apenas no esporte.
A relação entre BRB e Flamengo
A parceria entre Flamengo e BRB começou em 2020, quando o banco assumiu o espaço máster do uniforme por R$ 32 milhões anuais. Depois disso:
- Em 2023, renovou por seis meses por cerca de R$ 22,5 milhões.
- Em 2024, ampliou o contrato até abril de 2026, colocando a marca na omoplata da camisa por R$ 25 milhões ao ano.
Há também o acordo com o Banco Nação, banco digital ligado ao clube. A remuneração deixou de ser por cliente cadastrado (R$ 0,30) e passou a ter valor mínimo de R$ 15 milhões anuais. Somando tudo, o BRB garante ao menos R$ 40 milhões por temporada ao Flamengo.
A parceria, inclusive, foi determinante para o BRB ganhar projeção nacional, abandonando a imagem de banco restrito ao DF.
Sinal de preocupação na Gávea
Com a operação da PF, a diretoria rubro-negra passou a acompanhar o caso com atenção. Internamente, o entendimento é que o contrato oferece cláusulas de proteção capazes de permitir um rompimento sem prejuízo financeiro ao clube, caso o cenário do BRB se agrave. Por ora, o Flamengo prefere não se manifestar.
Reação do Governo do DF
O Governo do Distrito Federal (GDF) divulgou nota reforçando que o BRB funciona normalmente, sem risco à liquidez ou continuidade dos serviços. Para substituir o presidente afastado, o governo indicou Celso Eloi de Souza Cavalhero, executivo da Caixa Econômica Federal, com longa carreira no setor financeiro.
O governo também informou que adotará medidas adicionais de governança e compliance para reforçar os controles internos e acompanhar as apurações.
Nota oficial do Governo do Distrito Federal na íntegra
"O GDF respeita integralmente as deliberações da Justiça e reforça seu compromisso com a legalidade, a transparência e a plena colaboração com as autoridades responsáveis pelas investigações
O Governo do Distrito Federal, diante das decisões judiciais proferidas nesta terça-feira (18) que determinaram o afastamento temporário do presidente e do diretor financeiro do Banco de Brasília, reforça seu compromisso com a legalidade, a transparência e a plena colaboração com as autoridades responsáveis pelas investigações.
O Governo do Distrito Federal reafirma que o BRB mantém sua capacidade plena de operação, com total segurança administrativa e financeira. Todas as rotinas bancárias, sistemas internos, serviços aos clientes, contratos vigentes, operações de crédito e compromissos institucionais seguem em funcionamento regular. Não há qualquer impacto estrutural na liquidez, na solvência ou na continuidade operacional da instituição.
O Governo do Distrito Federal, para assegurar a continuidade administrativa e financeira do BRB, indicou Celso Eloi de Souza Cavalhero para a presidência do banco. Servidor de carreira da Caixa Econômica Federal desde 1990 e atual superintendente da instituição em Brasília, Celso Eloi possui trajetória consistente em gestão financeira pública, análise de risco e governança, além de ampla experiência operacional no sistema bancário. Sua indicação será encaminhada à Câmara Legislativa do Distrito Federal, nos termos da Lei Orgânica.
O Governo do Distrito Federal informa, ainda, que medidas internas adicionais serão adotadas para reforçar os mecanismos de governança, compliance e controle interno. A administração público distrital acompanhará de forma permanente as apurações e colaborará com todas as instâncias regulatórias e fiscalizatórias. O objetivo é assegurar a integridade dos processos, preservar o patrimônio público e fortalecer a confiança no sistema financeiro do Distrito Federal.
O Governo do Distrito Federal permanece comprometido com a estabilidade institucional do BRB e com a garantia de que todos os serviços prestados à população ocorrerão com regularidade, transparência e responsabilidade."
Em resumo: onde se conectam Flamengo, BRB e Vorcaro?
- O BRB, patrocinador do Flamengo, aplicou bilhões no Banco Master.
- O Master é controlado por Daniel Vorcaro, que foi preso na operação.
- O caso levou ao afastamento da direção do BRB e colocou o patrocínio sob observação no Flamengo.
- O clube acredita estar juridicamente protegido, mas monitora de perto os desdobramentos.
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