O presidente do Botafogo social, João Paulo Magalhães Lins, vive um momento de distanciamento em relação a John Textor. A tensão ficou evidente após a Justiça impor, na semana passada, uma liminar que proibiu temporariamente a SAF de negociar jogadores sem avisar previamente o clube associativo. Em meio a esse cenário, João Paulo viajou a Doha, no Catar, para participar de uma conferência empresarial, oportunidade em que conversou pessoalmente com Moe Al Thani, membro da família que governa o país.
Durante a reunião, o Botafogo foi um dos assuntos abordados. João Paulo tenta fortalecer a relação com o sheik visando possíveis aportes financeiros no futuro. A informação foi publicada inicialmente pelo site "ge.com".
O conteúdo da conversa não foi divulgado. Também não há informações se Moe Al Thani prometeu fazer investimento no Botafogo.
– Agradeço por receber meu irmão João Paulo aqui em Doha. Ele nos acolheu com muito carinho no Rio, e foi uma bênção reencontrá-lo. Doha será sempre sua casa, meu amigo – publicou Moe Al Thani em suas redes sociais.
A situação financeira do Botafogo é um dos pontos que alimentam a insatisfação do clube social no embate judicial com a SAF. Em carta recente, os associados criticaram a suspensão dos investimentos que deveriam ser feitos pelos parceiros estrangeiros.
Moe Al Thani: história e feitos
O sheik Moe Al Thani, cujo nome completo é Mohammed bin Abdullah Al Thani, tem 43 anos e integra uma das dinastias mais influentes do Oriente Médio: a família Al Thani, que governa o Catar há quase dois séculos e cuja liderança transformou o país, outrora um território desértico, em uma das nações mais ricas do planeta por meio da exploração de petróleo e, principalmente, do gás natural. A fortuna coletiva do clã é estimada entre US$ 170 bilhões e US$ 300 bilhões, dependendo da metodologia usada e da inclusão de ativos estatais, o que os coloca entre os grupos familiares mais ricos do mundo. Grande parte desses recursos é administrada pelo Qatar Investment Authority (QIA), o fundo soberano do Catar, criado para diversificar investimentos globais e proteger a economia local de oscilações no mercado de energia. Por meio do QIA e de suas subsidiárias, a família possui participações em empresas, bancos, indústria de tecnologia, hotelaria de luxo, imóveis icônicos em capitais como Londres, Paris e Nova York, além de ativos estratégicos em infraestrutura, transporte aéreo e grandes corporações globais.
Nascido em 16 de junho de 1982, nos Emirados Árabes Unidos, Moe Al Thani é filho do xeque Abdullah bin Muhammad bin Ali Al Thani e carrega duplo vínculo aristocrático: além de pertencer à Casa Al Thani do Catar, é também ligado à família real Al-Qasimi dos Emirados, por meio de sua avó paterna, irmã do atual emir de Sharjah. Essa origem o posicionou desde cedo em um ambiente de formação executiva, diplomática e empresarial. Sua educação reflete esse caminho: Moe se graduou em Marketing e Contabilidade pela American University of Sharjah, onde também concluiu seu MBA, e mais tarde cursou programas de Administração de Empresas na Harvard Business School, adquirindo status de ex-aluno e ampliando sua rede de relações internacionais.
Além do perfil corporativo e institucional, Moe Al Thani se tornou amplamente conhecido por sua atuação esportiva e aventuras extremas. Ele é o primeiro catariano a alcançar o cume do Monte Everest, em 22 de maio de 2013, feito que integrou o projeto dos Arabs with Altitude, grupo que reuniu pioneiros árabes no montanhismo, incluindo a primeira mulher saudita a escalar o Everest, Raha Moharrak, e o primeiro palestino a chegar ao topo, Raed Zidan. Seu currículo de montanhista inclui a conquista dos Sete Cumes, a chegada ao Polo Sul esquiando o último grau e a ascensão do Ama Dablam, no Nepal, em novembro de 2020. Ele escalou ainda montanhas emblemáticas como Kilimanjaro, Mont Blanc, Aconcágua, Denali, Elbrus, Kosciuszko e a Pirâmide Carstensz. Essas expedições renderam enorme repercussão internacional e inspiraram documentários como The Seventh Summit e Seal of Approval, em que suas jornadas aparecem como exemplo de superação e representação do mundo árabe em desafios extremos.
MAIS: John Textor, Botafogo e transferências fantasmas: quem são os jogadores envolvidos em investigação?
Moe também se destaca por seu trabalho filantrópico. Ele atuou como embaixador da marca Reach Out To Asia, organização vinculada à Qatar Foundation, usando suas expedições para arrecadar fundos destinados a projetos educacionais em regiões vulneráveis, especialmente no Nepal. Em uma de suas iniciativas mais marcantes, liderou um grupo de jovens catarianos ao cume do Kilimanjaro em 2014, em campanha voltada à educação e inclusão social.
No campo corporativo e institucional, Moe Al Thani construiu carreira como gestor, investidor e líder empresarial. Ele foi membro do conselho da Vodafone Qatar, tornou-se integrante do conselho da Air Arabia ao lado do pai e assumiu múltiplas presidências em empresas de setores variados – como a Gamma Aviation Middle East, Santos International, Musafi Holding, AM Holding e a Universal Tourism Company. Em 2007, fundou o site de viagens Musafir.com, em 2019 inaugurou o estúdio de treinamento Altitude Elite, e em 2020 abriu o bistrô Twisted Olive no Burj Doha. Na área institucional, desempenhou papéis importantes na administração pública de Sharjah, atuando como diretor do Centro de Estatísticas e como presidente do Departamento de Desenvolvimento Comunitário do emirado, além de integrar o Conselho Executivo local.
Atualmente, Moe exerce funções de grande visibilidade, como vice-CEO do Grupo Ooredoo, um dos maiores conglomerados de telecomunicações da região, e presidente do Museu Olímpico e Esportivo 3-2-1 do Catar, o primeiro museu árabe a integrar a rede mundial de museus olímpicos. Essa posição reforça sua ligação com o esporte e o uso dele como ferramenta de desenvolvimento social, cultural e diplomático.
O protagonismo da família Al Thani no esporte, setor ao qual Moe também está ligado, é um dos pilares da estratégia global do Catar. O país vem usando o esporte como instrumento de projeção internacional, fortalecendo sua identidade e ampliando sua influência por meio de eventos, clubes e investimentos de grande porte. A principal força desse modelo é a Qatar Sports Investments (QSI), braço esportivo do fundo soberano, que ficou mundialmente conhecido ao assumir o Paris Saint-Germain (PSG) em 2011. Sob o comando dos Al Thani, o clube parisiense deixou de ser apenas uma potência francesa e se transformou em uma das maiores marcas esportivas do mundo, protagonizando algumas das maiores contratações da história do futebol. O QSI também expandiu sua atuação, investindo em outras modalidades e em clubes internacionais, e o Catar consolidou seu projeto ao sediar a Copa do Mundo de 2022, o evento esportivo mais caro já realizado.
Essa combinação de riqueza, influência política, visão empresarial e poder de investimentos fez da família Al Thani uma das mais relevantes do planeta. Sua atuação se estende da diplomacia à economia global, passando por cultura, filantropia, tecnologia e, principalmente, esporte. Inserido nesse ecossistema, Moe Al Thani representa o perfil moderno da elite do Golfo: executivo, esportista, empreendedor, figura institucional, alpinista pioneiro e agente de influência internacional. Sua trajetória combina tradição familiar, formação cosmopolita e um conjunto de iniciativas que ampliam o alcance do Catar no cenário global – tanto pelo poder econômico quanto pela capacidade de usar o esporte, os negócios e a cultura como instrumentos estratégicos de projeção mundial.
MAIS: Tabela do Brasileirão 2025: a classificação do Campeonato Brasileiro