O Botafogo viveu um dia de forte turbulência política e jurídica. Na manhã desta terça-feira (25/11), o clube social ingressou na Justiça do Rio de Janeiro com uma ação pesada contra a Eagle Football Holdings, empresa que controla 90% da SAF alvinegra e tem John Textor como principal acionista global. O movimento abriu mais um capítulo na já tensa relação entre os sócios da operação que comanda o futebol alvinegro.
A ação pede ressarcimento de R$ 155,4 milhões, valor equivalente a aproximadamente 10% do passivo declarado pela SAF – justamente a fatia correspondente à participação do Botafogo associativo no capital social da empresa. Além disso, o clube social quer que a Justiça nomeie um interventor judicial na SAF e proíba a venda de ativos, incluindo jogadores de futebol, até que o quadro seja esclarecido.
O que diz o clube social
O presidente do Botafogo associativo, João Paulo Magalhães Lins, afirma que o objetivo não é retomar o controle do futebol nem afastar John Textor, mas sim garantir que o acordo de acionistas firmado em 2022 seja cumprido. Ele sustenta que a medida é uma forma de proteger o patrimônio do clube diante do embate crescente entre Textor e a Eagle, que se acusam mutuamente de irregularidades e má gestão da SAF.
– A torcida do Botafogo, assim como eu, somos muito gratos ao Textor e esperamos que esta briga acabe logo. Meu objetivo é tão somente o cumprimento do acordo de acionistas – afirmou João Paulo, em entrevista ao jornal "O Globo":
– Não pedi para tomar o clube de volta e nem para tirar o Textor. Gosto muito dele e quero que ele se resolva o quanto antes com os sócios deles. Esse depósito de 155 milhões é para garantir a ação. E tem que ser usado para o Botafogo SAF. A Eagle tem que assumir as responsabilidades dela.
Na petição enviada à 23ª Câmara do Direito Privado do TJRJ, o Botafogo associativo argumenta que o conflito entre Eagle e Textor coloca a SAF em risco de insolvência ou iliquidez. Segundo a tese apresentada pelo Botafogo associativo, cada parte em Eagle x Textor culpa a outra pelo suposto rombo financeiro, enquanto o clube social, que detém apenas 10% das ações, está à espera de investimento previsto por contrato.
"Cada parte imputa à outra a responsabilidade pelo alegado rombo, seja por gestão temerária, seja por condutas que teriam resultado em desvio de recursos ou obrigações inadimplidas. […] Não há qualquer alegação de que o Clube Associativo tenha concorrido para o prejuízo ou dele se beneficiado."
O advogado do clube social, Leonardo Antonelli, detalhou o pedido:
– Optamos por estancar a hemorragia e solicitar que a Eagle deposite em juízo ao menos 10% do valor que a própria empresa afirma ter sido desviado por seu representante legal no Brasil, John Textor, ou seja, R$ 155 milhões.
A reação de John Textor
John Textor foi pego de surpresa com a ofensiva judicial. Pessoas próximas ao empresário afirmam que ele vinha mantendo conversas amistosas com João Paulo nos últimos dias, o que torna o movimento ainda mais inesperado para o acionista da Eagle.
Internamente, membros da SAF acreditam que o Botafogo social estaria tentando reassumir influência sobre o futebol, interpretação que João Paulo rejeita publicamente.
Há, ainda, tensão entre os próprios sócios da Eagle Football: a empresa está em disputa jurídica nos EUA e no Brasil para determinar responsabilidades sobre supostos desvios, má gestão e operações financeiras controversas. Parte desse conflito respinga diretamente no Botafogo SAF, o que motivou o clube social a agir.
A resposta da SAF: 'alegações inverídicas'
No meio da tarde, a SAF do Botafogo emitiu uma longa nota oficial rebatendo de maneira dura o clube associativo. A empresa classificou as acusações como "inverídicas, sem amparo jurídico e sem fundamento no acordo de acionistas", e afirmou que cumpre integralmente suas obrigações desde a aquisição do controle do futebol alvinegro.
A nota destaca:
- As conquistas recentes: Libertadores e Brasileirão 2024, sequência histórica de classificações ao torneio continental e a indicação do clube entre os cinco melhores do mundo pelo Ballon d'Or.
- O processo de renegociação e pagamento da dívida bilionária histórica do Botafogo.
- O investimento em profissionais, elenco, estrutura e competitividade.
- A inexistência de qualquer plano de vender jogadores do Botafogo para viabilizar a compra de um clube inglês por Textor.
O texto afirma:
"Repudiamos pedidos baseados em alegações inverídicas e marcados por evidente desconhecimento do direito empresarial. Nossa gestão tem sido pautada por decisões técnicas e entrega de conquistas inéditas."
A SAF também diz estar plenamente focada em terminar 2025 e planejar um "glorioso 2026", além de se manter aberta ao diálogo com o clube social – desde que de maneira unificada e responsável.
NOTA OFICIAL
— Botafogo F.R. (@Botafogo) November 25, 2025
Em resposta às recentes reportagens acerca das medidas judiciais propostas pelas lideranças do Clube Social, a SAF Botafogo vem a público manifestar o seguinte posicionamento:
1. A SAF informa que cumpre integralmente as obrigações estipuladas no acordo firmado… pic.twitter.com/5qJYJqpdX8
O que está acontecendo, na prática
A crise atual envolve três grandes frentes simultâneas:
1. Conflito entre Eagle e John Textor
As duas partes vêm trocando acusações sobre responsabilidade por suposto déficit financeiro, desvios e decisões de gestão. O clube social teme que esse embate coloque a SAF em risco.
2. Movimento forte do Botafogo associativo
O clube social quer:
- Garantia financeira de R$ 155 milhões;
- Interventor judicial;
- Proibição de venda de ativos;
- Suspensão de dividendos à Eagle;
- Cumprimento estrito do acordo de 2022.
3. Reação da SAF
A gestão de Textor interpretou a ação como uma tentativa de interferência indevida e afirma estar cumprindo tudo o que foi combinado, além de reforçar conquistas e estabilidade esportiva.
O cenário daqui para frente
O caso agora está nas mãos do TJRJ, e a decisão do desembargador Marcelo Marinho pode alterar completamente o ambiente do Botafogo SAF. Entre os possíveis desdobramentos:
- Exigência de depósito imediato da Eagle;
- Negativa total do pedido do clube social;
- Nomeação ou não de interventor;
- Suspensão temporária de vendas de jogadores;
- Intensificação do conflito entre Textor e Eagle.
No centro de tudo isso está o futuro do Botafogo – que vive, ao mesmo tempo, um de seus períodos esportivamente mais fortes e uma crise institucional que coloca dúvidas sobre o futuro da SAF.
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