Após a eliminação do São Paulo na Libertadores e o clube completando 20 anos sem o título da competição, alguns torcedores defenderam a transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) nas redes sociais. Sobre o tema, o panorama atual é o seguinte: se em um primeiro momento a diretoria se mostrava reticente, o presidente Julio Casares hoje admite que o modelo empresarial "é uma tendência" e que ignorá-lo pode significar ficar para trás em relação aos rivais.
Em diferentes entrevistas ao longo de 2025, Casares deixou claro que o São Paulo não pretende se tornar uma "SAF pura", vendida integralmente a um investidor, mas sim adotar modelos híbridos de captação, parcerias e fundos que tragam competitividade sem abrir mão da identidade e do patrimônio.
Casares: o que pensa sobre SAF no São Paulo
Em janeiro, em conversa com a CNN, Casares afirmou que o cenário do futebol brasileiro aponta para a necessidade de mudança.
– É uma tendência (virar SAF), porque imagina se você ficar, tem 20 clubes na Série A, com quatro ou cinco clubes isolados, você vai ser asfixiado. O Fortaleza virou SAF, não foi vendido, mas virou SAF. É um módulo que está esperando um momento para transacionar. É um movimento – explicou.
Segundo o dirigente, a questão não é apenas financeira, mas também estratégica: clubes que encontrarem alternativas empresariais terão mais fôlego para competir no mercado.
– O que nós queremos, se um dia o São Paulo for discutir isso, é recuperar o São Paulo para que tenha musculatura para não negociar pela dívida, mas sim entrar no balcão de forma adulta e dizer: "aqui vale tanto" – destacou.
Fundo de Cotia: até R$ 350 milhões na base
Entre os projetos em andamento, o mais ambicioso é a criação de um Fundo de Investimento em Participações (FIP) para Cotia, em parceria com a gestora Galapagos. A proposta, que será votada no Conselho Deliberativo, prevê a captação de ao menos R$ 250 milhões – podendo chegar a R$ 350 milhões – em troca de 30% das ações do fundo, ficando os outros 70% com o clube.
Casares rejeita a ideia de que o São Paulo estaria "vendendo a base". Para ele, trata-se de uma operação financeira para dar liquidez e profissionalizar ainda mais a formação de atletas. “Não estamos vendendo patrimônio, vendendo base. O know-how é nosso. É um acordo operacional com dinheiro na frente, onde esse parceiro vai ganhar do líquido”, defendeu.
O dinheiro captado terá destino definido: pagamento de dívidas, investimentos em infraestrutura, tecnologia, capital de giro e fortalecimento das categorias de formação. O projeto prevê ainda a contratação de um diretor de vendas e um head scout exclusivos para Cotia.
Parcerias internacionais e porta para a Europa
Casares também busca acordos estratégicos no exterior. Em entrevista ao UOL, citou o interesse em Evangelos Marinakis, dono do Nottingham Forest, para ser parceiro em negociações da base, criando uma "porta mais rápida" para o mercado europeu.
– Quero um sócio que me ponha dinheiro e o grego não só tem dinheiro, como tem plataforma esportiva – disse.
O presidente também revelou já ter sido sondado por grupos estrangeiros, incluindo o City Football Group.
– O São Paulo sempre é procurado. Se um dia o clube discutir SAF, entraria numa mesa de negociação de forma diferente – comentou.
Apesar dos interesses, o São Paulo não deu passos definitivos em ambas as questões.
São Paulo: meta para o centenário
Se a curto prazo o foco é reequilibrar as contas até o fim de sua gestão, em dezembro de 2026, o projeto de Casares tem uma meta ambiciosa para o centenário do clube:
– Em 2027, 2028 o SPFC começa a dar os primeiros passos para disputar jogadores importantes com outros clubes com mais dinheiro em caixa, como o Palmeiras. Mas em 2030, no ano do centenário, o São Paulo será um player mundial.
O debate sobre SAF divide torcedores e conselheiros. Para alguns, representa a salvação financeira e o único caminho possível para competir com gigantes do Brasil e do exterior. Para outros, é um risco de perder autonomia e entregar a história a investidores.
Casares tenta se posicionar no meio do caminho: admite a tendência, mas prega cautela. A prioridade, segundo ele, é "arrumar a casa" para que, se o São Paulo se tornar SAF, não seja por desespero diante das dívidas – mas por força de mercado.
MAIS: As melhores VPNs para ver esportes ao vivo