O pesado desabafo de Luan, do São Paulo: “Não tinha força para levantar da cama”

Samir Mello

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Guilherme Veiga/UAI Foto/Gazeta Press

Luan, volante do São Paulo, publicou um texto no site The Player's Tribune que viralizou nas redes sociais. Em um longo desabafo, o jogador, que sofreu com uma grave lesão que colocou em risco a continuidade de sua carreira no Tricolor Paulista, revelou como o período afetou a sua saúde mental.

— Eu não conseguia dormir. Passava noites em claro achando que nunca mais vestiria a camisa do Tricolor, me perguntando o que fazer com aquele aperto no peito, aquela sensação ruim de ter um trabalho importante pra terminar e não conseguir — escreveu.

O jogador de 26 anos foi criado em Cotia e viveu seu melhor momento na primeira passagem de Hernán Crespo pelo São Paulo. Uma lesão, no entanto, fez com que o jogador perdesse espaço, chegando a ser emprestado ao Vitória. Ao retornar para o Tricolor, Luan foi avisado que “não fazia parte dos planos” de Zubeldía. Com o retorno de Crespo, o volante tem voltado a receber oportunidades para jogar.

— Nesses dias de aflição, eu fiz umas coisas meio desesperadas. Eu não estava nada bem. Ligava pro Carlos Belmonte, diretor de futebol, e pedia pra pelo menos fazer a pré-temporada. Esperava o Zubeldía nos corredores e implorava uma oportunidade de treinar com o time. Passava muito tempo sozinho, no meu quarto em casa, fazendo lista de jogadores que sofreram lesões graves, mas deram a volta por cima… Zico, Ronaldo, Beckham, Ibrahimovic, Neymar — revelou.

— Eu tinha me recuperado, podia jogar em alto nível. Só que o medo de ser emprestado ou vendido e nunca mais voltar pro São Paulo acabava comigo. Teve um dia de semana em que eu estava assistindo a um jogo nosso pelo Paulista na TV e surtei.  Uma angústia insuportável. Então, assim que a partida acabou, comecei a ligar e mandar mensagem pros meus companheiros que tinham acabado de jogar. Não lembro exatamente o que falei ou escrevi, mas deve ter sido algo preocupante, porque os caras foram lá em casa naquela mesma noite. Luciano, Jandrei, Alan Franco e Alisson. E sabe o que eu fiz? Não os recebi. Me tranquei no porão e não saí pra falar com eles. Lá de dentro, soluçando de tanto chorar, eu pedia pra eles serem campeões.

Sentia uma vergonha enorme. Não por aquela cena deprimente, mas por não jogar, não desfrutar do dia a dia com meus companheiros, não poder ajudá-los em campo e não saber como me livrar daquela impressão de que o mundo inteiro estava contra mim — desabafou.

Luan conta que, além de ter voltado a receber oportunidades com o Crespo, procurou a terapia e teve ajuda de jogadores como Diego Souza e Luciano ao longo do caminho. 

— Quem me deu força nesse tempo foi o Luciano, outro grande amigo que o futebol colocou no meu caminho. Ele me ligava todos os dias às 8h em ponto: 'Cadê você, Pit?', ele dizia — os caras lá do clube me chamam assim, por causa do apelido de Pitbull. 'Já tô aqui no CT te esperando. Você vem, né? Tá chegando?'. Eu não tinha força pra levantar da cama, mas me trocava e ia só pelo Luciano. Graças a ele eu continuei o tratamento e me recuperei. Fisicamente, pelo menos — disse.

— Ainda tenho dias difíceis, não tão difíceis como antes, mas no geral me sinto bem melhor. Vou fazendo a minha parte e também contei com uma bênção de Deus: a volta do Crespo ao São Paulo me encheu de ânimo. Pô, é o cara que traz a garra argentina pro time, uma filosofia de jogo que tem tudo a ver com o velho Tanque de Cotia. É o cara da frase: 'Onde as pernas não chegam, o coração vai chegar', o cara com quem marquei um gol de título. Mesmo sendo o treinador que conhece o meu potencial, hoje eu só penso em ficar bem, treinar bastante e recuperar na bola a minha antiga condição. Foi emocionante no primeiro treino do Crespo. Eu disse pra ele contar comigo no que precisasse. Se fosse pra eu começar no banco e entrar só cinco minutos, estava bom. Se fosse pra jogar 90, prorrogação e pênaltis, estava bom. Se fosse pra nem ser relacionado, estava bom. Se fosse pra ser substituído, estava bom. Eu só queria ajudar de alguma forma. O Crespo não me prometeu nada. Só me deu um abraço e falou pra eu continuar trabalhando — continuou.

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Samir Mello

Samir Mello é formado em jornalismo pelo UniCeub e tradução pela Universidade de Brasília (UnB). É mestre em tradução audiovisual pela City, University of London. No jornalismo, tem passagens pelo Jornal de Brasília, Correio Braziliense, Metrópoles e SBT. Está no Sporting News desde 2024.